A SOCIEDADE DO ESPECTÁCULO

E OUTROS TEXTOS DE
GUY DEBORD

(1931-1994)



"A teoria revolucionária é, agora, inimiga de toda a ideologia revolucionária e sabe que o é."
"A tese 111,(de A Sociedade do Espectáculo) ao reconhecer os primeiros sintomas do crepúsculo russo a cuja explosão final acabamos de assistir, e antecipando-se à eminente desaparição daquilo que, como diríamos hoje, se borrará de la memoria del ordenador, e enunciava este juízo estratégico, cuja exactidão será fácil de conceder: «A decomposição mundial da aliança da mistificação burocrática é, em última instancia, o factor mais desfavorável ao desenvolvimento da sociedade capitalista».

O meu método será muito simples. Nomearei o que amei; e o resto, a esta luz, há-de suficientemente mostrar-se e fazer-se entender.
"A coerência da sociedade do espectáculo tem, duma certa maneira, dado razão aos revolucionários, visto que se tornou claro que nela não pode reformar-se o mais pequeno detalhe sem desfazer o conjunto. Mas, ao mesmo tempo, esta coerência suprimiu toda a tendência revolucionária organizada suprimindo os terrenos sociais onde ela tinha podido, mais ou menos bem, exprimir-se: do sindicalismo aos jornais, da cidade aos livros. Num mesmo movimento pôs-se a claro a incompetência e a irreflexão de que esta tendência era naturalmente portadora. E no plano individual, a coerência que reina é bem capaz de eliminar, ou comprar, certas excepções eventuais."
Os espectadores não encontram o que desejam; eles desejam o que encontram...Há quem compreenda e quem não compreenda, que a luta de classes em Portugal foi em primeiro lugar e principalmente dominada pelo confronto entre os operários revolucionários, organizados em assembleias autónomas, e a burocracia estalinista, guarnecida com generais derrotados. Os que compreendem isto são os mesmos que podem compreender o meu filme; e eu não faço filme para os que não compreendem, ou dissimulam, isto.


De modo que, se a teoria da I.S., doravante, for ainda incompreendida ou abusivamente traduzida, como por vezes aconteceu às de Marx ou Hegel, ela há-de saber ressurgir em toda a sua autenticidade, sempre que historicamente soe a sua hora, a começar por hoje mesmo. Saímos da época em que podíamos irremediavelmente ser falsificados ou apagados, porque a nossa teoria beneficia doravante, para bem e para mal, da colaboração das massas.

"A Comuna foi a maior festa do século XIX. Encontra-se nela, na sua base, a impressão de que os insurgentes se converteram em donos da sua própria história, não tanto a nível da decisão política "governamental" como da vida quotidiana, naquela primavera de 1871 (ver o jogo de todos com as armas; o que quer dizer jogar com o poder). É também neste sentido que há que compreender Marx: "a maior medida social da Comuna foi a sua própria existência em actos..."

Manifesto Internacional Situacionista Publicado na Internacional Situacionista 4, (1960).

"Os urbanistas revolucionários não hão-de preocupar-se apenas com a circulação das coisas e dos homens coagulados num mundo de coisas. Tentarão desfazer estas cadeias topológicas, experimentando terrenos para a circulação dos homens com base na vida autêntica."

Esta superação (da mercadoria enquanto gigantesco desvio da produção do homem por ele próprio) implica naturalmente a supressão do trabalho e a sua substituição, por um novo tipo de actividade livre; o que significa a abolição de uma das separações fundamentais da sociedade moderna: a separação entre um trabalho cada vez mais reificado e ócios passivamente consumidos...

Definições (1958)

O começo duma época

Questões preliminares à construção duma situação (1958)

Os situacionistas e a automatização (Asger Jorn 1958)


Definições Mínimas das organizações revolucionárias (1967)

O meu último encontro com Guy Debord (Ricardo Paseyro)

Outro autores

Roswitha Scholz 

Homo Sacer e Os Ciganos
O Anticiganismo – Reflexões sobre uma variante essencial e por isso esquecida do racismo moderno

Homo Sacer e os Ciganos
Este livro destaca o real significado do anticiganismo, como variante específica do racismo no seio do capitalismo. A tese central que a autora expõe neste ensaio consiste na ideia de que o cigano se situa desde sempre no exterior da lei e, por isso, representa a sua matriz inadmitida, não sendo a exclusão e a idealização romântica senão as duas faces da mesma moeda racista. «O desprezo pelo cigano é testemunha de uma forma, nada despicienda, do medo da despromoção na escala social, como estado de espírito fundamental e ubíquo no capitalismo», assevera a autora.

Linhas gerais para a transformação da crítica da economia política

Dinheiro sem Valor



A DECADÊNCIA DO TRABALHO
SIC TRANSIT GLORIA ARTIS O "fim da arte" segundo Theodor W. Adorno e Guy Debord


É interessante examinar o lugar da crítica situacionista no interior do pensamento francês moderno, marxista ou não. Ver-se-á o quanto a posição situacionista ia "contra a corrente" na década de 60 mas, também, o quanto estava objectivamente próxima de outras correntes de pensamento.

"Sejamos preguiçosos em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos."

O trabalho abstracto como metafísica real social e o limite interno absoluto da valorização.
Primeira parte: A qualidade histórico-social negativa da abstracção "trabalho".
O Absoluto [Absolutheit] e a relatividade na História. Para a crítica da redução fenomenológica da teoria social - O conceito filosófico de substância e a metafísica real capitalista - O conceito negativo de substância do trabalho abstracto na crítica da economia política de Marx - O conceito positivo do trabalho abstracto na ontologia do trabalho marxista - Para a crítica do conceito de trabalho em Moishe Postone - O trabalho abstracto e o valor como apriori social - O que é abstracto e real no trabalho abstracto? - O tempo histórico concreto do capitalismo.

A NOVA CRÍTICA SOCIAL E O PROBLEMA DAS DIFERENÇAS

Disparidades económicas, racismo e individualização pós-moderna.

Algumas teses sobre o valor-dissociação na era da globalização

Roswitha Scholz

Trata-se de compreender o problema das diferenças em planos diversos: na dimensão social-estrutural, que diz respeito a diferenças entre disparidades económicas, racismo, antisemitismo e sexismo; assim como no plano individual, sendo que ninguém se resume a estruturas, constituindo antes um indivíduo inconfundível e singular, sem, no entanto, poder subtrair-se às estruturas; finalmente no plano fundamental do valor-dissociação, como princípio social da forma, que, no entanto, contrariamente a uma lógica dedutiva universalista clássica, por assim dizer admite por si o particular e as diferenças, como quero demonstrar.

TABULA RASA


Até onde é desejável, obrigatório ou lícito que vá a crítica ao Iluminismo?

A crítica da dissociação, a crítica do sujeito e a crítica do Iluminismo constituem uma unidade indivisível, não sendo qualquer destes momentos possível sem qualquer dos outros. É de um modo correspondente, que prescinda de simplificações abusivas, que a crítica tem de proceder se quiser concluir o novo paradigma crítico do valor e da dissociação – o que não equivale à conclusão da elaboração teórica em termos gerais, mas unicamente à conclusão preliminar da "destruição criadora" do velho paradigma. Podem e devem existir, sem dúvida, diversas posições, acentuações e aspectos no contexto da teoria crítica do valor e da dissociação; mas não podem existir lado a lado, em uma aleatoriedade quase que pós-moderna, sendo irremediavelmente opostas umas às outras, tendo antes de ser mutuamente compatíveis a um nível fundamental, o que também significa terem de comportar um carácter vinculativo comum.
Uma coexistência pacífica com o modus dissociativo "masculino" da elaboração teórica está excluída. Assim sendo, para a forma do sujeito moderna, capitalista e "ocidental", que de qualquer modo já apenas existe nas respectivas formas de decadência, não deve crescer nada que a salve se for para a emancipação da relação de coacção destruidora do mundo, que é a socialização do valor, constituir uma opção séria. Provavelmente isto até nem suscita controvérsia; mas nesse caso a crítica do sujeito não deveria ser apenas mantida coerente, mas também deveria ser cautelosamente delimitada em termos conceptuais, face a outras questões que dizem respeito a conquistas culturais da Humanidade de um modo geral. Há que fazer tábua rasa com a forma do sujeito capitalista e ocidental e com a vinculação a uma forma de fetiche em termos gerais, mas, lá por isso, não com tudo e qualquer coisa que a Humanidade tenha produzido até à data apesar da sua vinculação fetichista e através da mesma.

ONTOLOGIA NEGATIVA

Os obscurantistas do Iluminismo e a metafísica histórica da Modernidade

Talvez se pudesse objectar que uma condenação sumária dos pensadores do Iluminismo sujeitaria esses senhores a um tratamento que obedeceria a uma lógica identitária injustificada, como se eles se resumissem totalmente ao seu crime intelectual negativo. Até certo ponto teremos mesmo de comportar-nos em relação a eles dum modo assim tão supostamente "injusto" para finalmente nos livrarmos desta pesada hipoteca ideal. Tal como os democratas musculados, como se sabe, espalham a palavra de ordem "Nenhuma liberdade para os inimigos da liberdade" (referindo-se com isso, sem qualquer dúvida, mais à crítica emancipatória do que aos próprios familiares racistas), a crítica do valor e da dissociação poderia proceder segundo o mote: "Nenhuma isenção do processo da lógica identitária para os ideólogos da lógica identitária" porque, de outro modo, nunca mais nos vemos livres deles.

Razão Sangrenta

20 Teses contra o assim chamado Iluminismo e os "valores ocidentais"

Guy Debord antecipou em vários aspectos uma crítica categorial do sistema produtor de mercadorias, como ela hoje, com outros acentos mais teórico-críticos, está sendo sistematicamente desenvolvida por uma escola, ainda em formação, de crítica radical do valor e contra o Espírito do Tempo.

"Quem é dado por morto, vive mais". Karl Marx já foi dado por morto mais de uma vez e sempre escapou por um fio da morte histórica e teórica.

MANIFESTO CONTRA O TRABALHO

"A crítica do trabalho é uma declaração de guerra contra a ordem dominante, sem a coexistência pacífica de nichos com as suas respectivas coerções. O lema da emancipação social só pode ser: tomemos o que necessitamos !

KARL MARX, O CAPITAL, LIVRO I